Tomei consciência do universo
Quando te descobri para além das grades da minha prisão...
Tinha nos pés os quilómetros da desilusão
E nas mãos marcas de arame farpado...
Sentava-me horas esquecidas
Contando as incertezas absolutas da minha vida
Guardando em caixas feitas de ouro todos os medos a que me entreguei...
Construí um mundo onde só eu crescia
Onde só existia a árvore que me dava sombra
A fonte onde alimentava a minha sede...
Nas paredes de ferro desta dormência
Desenhava com pensamentos de sangue
Todos os caminhos que negara percorrer...
Todas as Luas cujos brilhos me amofinaram
E em silêncio destruíram a seiva de que quase desisti...
Ansiosamente, chamava a escuridão
Para nela, meus olhos rastejantes
Depositarem cobardes lágrimas que nunca ousariam um beijo de luz...
Nas paredes de ferro deste repúdio
Transcrevi todos os sonhos abandonados
Relatei todas as dores que me oprimiram
E assenti juras de solidão eterna...
A furiosa pena batia em desespero nas espessas grades
Em insuportáveis ruídos que estrangulavam as vozes
Que me gritavam castelos de coragem...
Acabrunhado, ouvi o vento numa das fendas do meu corpo...
A frieza do ferro, por instantes, pareceu distante...
E senti a tua mão trazendo o amanhecer segundos antes da suprema renúncia...
E vi teus olhos, teu corpo, teu sorriso...
E vi o meu mundo desabar
Destruído pelo soprar das tuas palavras...
E comecei a viver todos os nãos a que me havia condenado...
No teu olhar vi aquele mar distante
Aquele mar que não existe para os mortais...
Aquele mar sereno de beleza e magnitude...
No teu corpo encontrei os traços de um futuro
Que sempre desejei tocar com meus dedos...
E no teu sorriso vislumbrei toda a vida
Que temeroso julguei não me ter sido concedida...
Em ti tomei consciência do universo
Da impotência perante o amor
Amor em forma de rosa de cores só tuas
Amor em pedaços de ternura que a cada minuto te ofereço...
Gravei-te no mais íntimo dos meus esconderijos
Mostrei-te o mais recôndito dos meus lugares
És parte de mim, indivisível...
És mulher que amo sem condições...
Mulher das estrelas, dona da Lua...
Que guarda o Sol em seus braços
Filho a quem ensina o nascer e o pôr...
És mulher que amo
Como ainda ninguém escreveu
Como ainda ninguém cantou...
Mulher a quem dedico todas as lágrimas da emoção
Com que tranquilamente te espero...
12/Abril/2005
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