quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pequeno poema

Este é um pequeno poema
Apenas porque não me apeteceu fazê-lo maior
Um resumo do eu sem um princípio
Este é um pequeno poema
Mais ou menos de acordo com este dia
Pequeno de passos a compasso

Aborrecem-me as portas entreabertas
E os assobios do vento na janela
Deixem-me terminar este pequeno poema
Antes que fique grande demais.


28/Outubro/2009

Recordar...

Recordar

Recordar é viver
E eu vivo para te recordar
Recordo-te para não morrer
E morro por só te recordar


1986

Poesia perfeita

Ainda não fiz a poesia perfeita
Não sei se alguma vez a farei
Provavelmente... não
Porque poeta não serei
Alguns dirão
Ou então por falta de dor ou maleita
Por ausência de vontade expressa
De sofrer mil e alguns sofrimentos
Diluvianos e ternurentos
Nascentes de lágrima espessa
A poesia perfeitamente completa
Inalcançável meta
Para quem veste palavras insuficientes
Palavras repetidas e descrentes


27/Outubro/2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Por instantes

Não interessa o que tinha de acontecer
Mas a coisa que afinal é
Não importa o momento que ninguém viu
Ou até mesmo o sonho por fazer
Importa sim o talvez no horizonte
O rumo delineado sem cotas nem ângulos

Não interessa o amor não amado
Mas o amor dos dias e das noites
Sei lá do facto consumado ou da certeza absoluta
Mas sei do zero de que parto
Sei do caminho por todas as esquerdas e direitas

Não interessa o futuro do ontem
Mas o futuro que afinal é
Não importa o instante que esteve para vir
Mas o instante que num instante se esvai


25/Outubro/2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Persisto

Lá vem de novo esta encruzilhada irritante
Já lhe exprimi demasiadas vezes
A minha mais comovente sobranceria

Mas ela persiste...

Mas ela persiste inamovível e astuta
Acutilante no modo como me circunda
Como me estuda e ataca

Mas eu persisto...

Surdo aos lancinantes desejos do abismo
Seguro da ineficácia do rompante
Inconstante no tempo e na forma


25/Outubro/2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quando amas

Quando amas
Sinto-me perdido em ti
Vagueando no teu coração,
Sinto a tua alma... tuas mãos
Tua pele dizendo-me
Tudo bem, eu estou aqui

Quando amas
Respiro o teu ar
Sonho os teus sonhos
Sorrio em teus olhos

Quando amas
A chuva não molha
O sol não queima
A noite não escurece.
Quando tu amas
Eu vivo
Eu sinto
Quando tu amas
Eu sou feliz


Outubro/2000

Outros sorrisos

Foi quando te conheci
Que dentro de mim um tremor
Me fez cair para aqui
E olhar-te com muito amor

Fiz-te um poema de parabéns
Que se perdeu na eternidade
Olhei para os olhos que só tu tens
E descobri então a felicidade

Desde essa altura
Que não deixo de admirar
A tua alma tão pura
A tua beleza de invejar

Desde essa altura
Que te comecei a amar
E esqueci a amargura
Que tanto me fez chorar

E vou ficando para aqui
Seguindo os teus passos
E vou olhando para acoli
Esperando pelos teus abraços

Agora vives no meu interior
Dentro do meu coração
Sinto-o bater sem qualquer dor
Ao ritmo da tua respiração

As minhas mãos só conhecem
Para o teu rosto o caminhar
Meus dedos só emudecem
Perante a luz do teu olhar

Tenho nos meus braços
Mil afectos para te dar
Para fortalecer nossos laços
E poder de ti cuidar

Nenhum dos adjectivos
Que servem para te elogiar
Conseguem ser objectivos
E a tua maneira de ser retratar

Mesmo que te diga adoro-te
É longe do que tu mereces
Meu Deus, eu imploro-te
Que ouças as minhas preces

Faz-me ser sempre romântico
Para a minha linda e doce flor
E tornar-lhe a vida um cântico
Encher-lhe os dias de amor

Só ficaria mais consolado
Se te sentisse sempre feliz
E te acompanhasse a todo o lado
Para ver o teu sorriso de petiz

É tão grande o amor que sinto
Que me arrebata sem piedade
Que não penses que te minto
E sintas a minha honestidade

És linda, és bela
E se te visse passar
Espreitar-te-ia da janela
Só para te contemplar

Só para te ver
Só para te adorar
Só para te proteger
Só para te amar

Tu és todos os lugares
Num só e único lugar
Tu és todos os luares
Guardados no teu olhar

Tu és toda a magia
Que encerra a natureza
Tu és fonte de alegria
De onde não brota tristeza


7/Janeiro/2005

Grito

Um grito
Um esgar
Um nada de inquietude
Aparente sofrimento

Um momento
Um meio segundo de espera
Silêncio apressado
Fugindo das minhas mãos
Instante impreciso
Sem voz nem pulsar
Refúgio algures
Que não sinto alcançar


21/Outubro/2009

Amália Rodrigues - Lágrima

Amarga

De todas as palavras
Com que me amarrei a ti
Ilusão foi a mais deliciosa
A mais quente
A mais amarga
A mais mortífera

21/Outubro/2009

Pedro Abrunhosa - Beijo

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Só me falta ser

Já percorri todos os pensamentos
Os úteis e os sem utilidade
Já me olhei vezes sem fim
Procurando uma espécie de verdade
Que junte estes solitários elementos
Que achei perdidos junto a mim.

Já vi duas estradas
Três caminhos e uma viela
Sonhei com criaturas aladas
Coroas de flores enfeitadas
Sorrisos felizes a uma janela.

Só me falta a vida futura
Só me falta o passo de gigante
Saltar o obstáculo final
Com arfar de emoção pura
Só me falta ser arrogante
Ser forte... feroz animal


7/Outubro/2009

Já não me importo

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

A tua dor

A tua dor

No meu peito sinto-a desmedida
Gigantesca... insuportável

Sinto a desilusão que te consome
As tuas lágrimas como cortantes diamantes
Que te rasgam o coração de forma precisa

Nenhuma palavra te serve de alimento...
Nenhum gesto...
Nenhum abraço te serve de alento

Uma chuva torrencial
Que te gela por completo
E sentes o teu corpo ser levado
Pelos vendavais que te inundam o olhar...

Estendes a tua mão
Mesmo sabendo que nada tens onde te agarrar
E choras em silêncio
Para que os sons da tua mágoa
Não te torturem ainda mais

Sinto-me impotente
Sem qualquer passe de mágica
Que te roube ao sofrimento

Tento partilhar as tuas lágrimas
Julgando, inocente, que assim te aliviarei

Tens essa dor que é tua
Já a sabes de cor
No entanto, é desconhecida do Mundo
É tua...
Apenas tua...


17/Dezembro/2004

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Realidade

Realidade
Sonho sem mácula
Desejo sem corpo
Virtudes de dois sóis
Namorando a mesma Lua

Titubeantes
As vozes de uma recôndita revolução
Entregam-se a inúteis atropelos
Tentando a luz ao invés da noite

Ali vai mais uma manhã
Mais um desespero
Mais um caminho por desbravar


14/Setembro/2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dois pedaços

Dois pedaços de uma mesma dor
Duas cores no mesmo rosto

Corajoso na tormenta afundo-me nas águas
O meu esbracejar é intenso
Como intensa é a alegria da ansiedade


18/Agosto/2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sem

Chamei-te aos gritos
Para que o teu silêncio enlouquecesse...

Queria que me olhasses sem os teus olhos...


17/Agosto/2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Odeio

Odeio
Odeio este cheiro a felicidade
Odeio o sorriso na boca dos outros
Odeio a alegria que insistem em mostrar
Nos beijos que trocam
Odeio esta minha inveja
Que me torna tão egoista.


16/Setembro/1988

Força para gritar

Sinto a nudez encoberta nos meus sentidos
E já nem sei se nos braços
Tenho ainda a força para gritar...

Que desapego é este?
Que anoitecer me sopra os pensamentos?

Procuro-me entre as roupas suadas de tanto correr
E já nem sei se nos olhos
Tenho ainda lágrimas por chorar...

Que insatisfação é esta que me satisfaz?
Que rumor de perdição é este que me algema o sono?


15/Julho/2009

Amor

Amo-te em todas as formas que desenhas
Soube-o ontem enquanto te olhava caminhando
E teu corpo dançava músicas que só eu sabia existirem.

Amo-te sempre que olhas para lugares que só eu vejo.
Sempre que respiras o mesmo ar que respiro.
Amo-te em cada toque no teu cabelo
Em cada beijo...
Amo-te quando adormeces em mim
E te aconchegas no meu olhar...

Vejo-te os sonhos que lutas por esconder.
Quero levar-te por caminhos de felicidade
De sonos profundos... de acordares maravilhosos...

Anseio sonhar contigo
Juntos num amor verdadeiro
Tu e eu...
Amo-te


4/Outubro/2004

Sorrisos...


Sorrisos

Tenho amor cá dentro
Por ti, linda mulher
Da minha vida és o centro
Faça eu o que fizer

Hoje quando acordei
Lembrei os teus olhinhos
Foi a forma que encontrei
De os meus não ficarem sozinhos

E deixei-me estar na cama
Para o meu coração sonhar
Contigo, mulher que ele ama
E que tanto me faz vibrar

Saio sempre para a rua
Com o olhar meio perdido
A minha alma é só tua
Sem ti tudo é descolorido

Todo o dia tenho presente
Traços da tua beleza rara
E procuro sempre carente
O teu rosto em cada cara

Procuro em cada esquina
O teu cheiro, a tua luz
O teu sorrir de menina
Que me encanta e seduz

Passo pela multidão
E me sinto deslocado
Só ouço uma canção
Que me canta ao teu lado

Olho para ti, querida
E sinto a inspiração
Escrever poemas de vida
Nas linhas do meu coração

E quando os passo ao papel
Uma lágrima de saudade
Sente a falta do teu mel
E cai plena de liberdade

Poeta não sei bem se sou
Porque escrevo o meu dia
O amor que me encontrou
Com seu toque de magia

Agora que sei que existes
A fasquia está muito alta
Não tenho noites tristes
Mas sinto tanto a tua falta

És o Sol que muito brilha
Em cada dia de Verão
És uma estrela nesta trilha
Que me guia pela mão

És Lua, flor e água
Todo o mundo vive em ti
Apagaste em mim a mágoa
Com que sempre convivi

És um poema imenso
És um sorriso tão terno
E sempre que em ti penso
Sinto o meu amor eterno

Desenho-te com candura
Em cada momento meu
E agradeço a tua doçura
Que esta vida me ofereceu

Não há outra mulher
Que tenha a tua riqueza
E eu farei o que puder
Para merecer a tua beleza

Se disser que te amo
E fixares o meu olhar
Ouvirás que teu nome chamo
Que és razão do meu sonhar

Desde que te conheci
Que me sinto tremeliques
Estar pertinho de ti
Faz-me ficar cheio de tiques

Meus dedos tremem tremem
Parecem de frio tiritar
Mas tudo o que eles temem
É não mais te poder tocar

Queria muito te mostrar
Como gosto de te amar
Mas não sei se consigo
Com as coisas que te digo

As palavras valem zero
Se forem apenas ditas
E por isso é que eu espero
Torná-las em coisas bonitas

Quer numa pequena flor
Ou num doce chocolate
Sentirás o meu amor
Sempre pronto a mimar-te

Gostava que o meu coração
Te falasse ao ouvido
que num momentode emoção
O teu se sentisse comovido

É essa a minha esperança
De que não quero desistir
E tenho-a sempre na lembrança
É ela que me faz sorrir

Quando estou perto de ti
Gostava de te dar o mundo
Mas o que sempre te ofereci
Foi só o meu amar profundo

Mesmo antes de saber
Que o amor já existia
Me sentia estremecer
Com as sensações que vivia

Este fogo que não cessa
Sempre que penso em ti
É amor que não tem pressa
E que igual nunca senti

Talvez nunca acredites
No que sinto no coração
Ou talvez um dia hesites
E me dês a tua mão

Todos os dias te mostrarei
Como és sensacional
Que nunca encontrarei
Alguém que tão especial

Dou-te todo o meu amor
Dou-te todo o meu viver
Afastarei de ti a dor
E em mim a farei morrer

Para mim poder amar-te
É motivo de felicidade
Mesmo que só em sonhar-te
Eu rebente de saudade

Queria juntar num só beijo
Todo o meu sentimento
E sentires como te desejo
As estrelas do firmamento

Aqui bem sentadinho
Ficarei no meu canto
E me deixarei sozinho
Levar pelo teu encanto

E agora para terminar
Um abraço bem apertado
E que sintas o palpitar
Deste teu apaixonado


4/Janeiro/2005

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Suor e lágrimas

Amor contigo
Inferno com as cores do paraíso.
Tumultos de alma doentia
Alma irreconhecível no suor e nas lágrimas

29/Junho/2009

Melhor de mim

Quero dar-te o melhor de mim
Cada palavra... cada gesto
A voz da minha alma...

Em todos os momentos
Guardarei para ti
Os raios do sol... o luar da lua

Quero dar-te o melhor de mim
Oferecer-te flores mesmo que não as peças
Dar-te carinho mesmo que não precises

Porque quero que o hoje
Seja melhor do que o ontem
E que o amanhã seja sempre inesquecível...

Queria dar-te o melhor de mim
Porque assim me pede o coração
E porque se não o fizer
Chorarei em silêncio...
A dor da luta que se perde
Sem nunca ter lutado...


17/Outubro/2004

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vida

Suave toque do intocável
Nas minhas silenciosas mãos
E mergulhei na espiral do tempo

Revisitei-me
Sem a dor do momento passado
Sem a ilusão do futuro mais que perfeito

Abracei a vida
Para lhe dizer em surdina
Que a amo como nunca

21/Maio/2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sinto o amor

Sinto o amor
Amor liberto
Sem dor
Amor de liberdade
Amor de estar perto
Mesmo não estando
Olhar de verdade
Com que te vou amando…
Numa noite de luar
Fogueira que aquece
E vem confortar
O insuportável frio
De que a alma padece…
Mergulho nesse rio
Que teus olhos pintam
Teu corpo num abraço
Que se envolve no meu
Sem corações que mintam
Vinca-se o traço
Que este amor escreveu…
Nas ruas invento
Teu rosto numa esquina
Nas mãos o vento
Traz feliz o teu cheiro
A tua pele doce e fina
Que me alimenta por inteiro
Sacia a minha sede…
Enquanto teu nome ecoa
Escrito em cada parede
Pintura que não destoa
E que te retrata
Me tira desta solidão
Vida de pouca emoção
Que aos poucos me mata…
Sinto o amor
Em cada momento
Teu aroma em cada flor
No peito o alento
Com que não desisto
Se te olho e não te resisto…
Porque o Mundo não é Mundo
Neste sentir profundo
Onde só tu és mulher
Onde sempre te amarei
E sempre de ti cuidarei
Se teu coração quiser!
Amor
Liberto
Perto
Sem dor

18/Janeiro/2005

terça-feira, 5 de maio de 2009

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer,
Como esta pedra cinzenta
Em que me sento e descanso,
Como este ribeiro manso
Em serenos sobressaltos,
Como estes pinheiros altos
Que em verde e oiro se agitam,
Como estas aves que gritam
Em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
É vinho, é espuma, é fermento,
Bichinho álacre e sedento,
De focinho pontiagudo,
Que fossa através de tudo
Num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel,
Base, fuste, capitel,
Arco em ogiva, vitral,
Pináculo de catedral,
Contraponto, sinfonia,
Máscara grega, magia,
Que é retorta de alquimista,
Mapa do mundo distante,
Rosa-dos-ventos, Infante,
Caravela quinhentista,
Que é Cabo da Boa Esperança,
Ouro, canela, marfim,
Florete de espadachim,
Bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
Passarola voadora,
Pára-raios, locomotiva,
Barco de proa festiva,
Alto-forno, geradora,
Cisão do átomo, radar,
Ultra-som, televisão,
Desembarque em foguetão
Na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
Que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança.


António Gedeão

Triste refúgio

Solidão
Triste refúgio dos infelizes
Que nunca ouviram o amor

1986

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Rimas

Insatisfeito rasgo todas as rimas
Que tinha para te oferecer
Pareceram-me ridículas
Pareceram-me dias sombrios
Dias de chuva intermitente
Indecisas no tempo e na vontade de serem rimas

23/Abril/2009

Ânsia

Vivo na ânsia de ser encontrado por aquilo que procuro

23/Abril/2009

Negar

Porque insisto em negar o que todo o meu corpo
Repete vezes sem conta cada vez que respiro
Porque tento não ouvir o que me cantam os olhos
Sempre que te vejo numa inventada esquina
Onde me cruzo contigo e me prendes os sentidos
Porque insisto em chorar se tanto de ti me preenche
O dia, a noite, o adormecer e o acordar...
Porque duvido eternamente
De todos os sorrisos que me ensinas
De todos os beijos que me roubas.
É como viver sem querer viver
Sempre rejeitando a vida para não morrer

Como se não fosse claro
Que preciso de sofrer para melhor te amar
Que preciso de chorar para melhor te cuidar
Porque insisto em negar que te amo
Se tudo à minha volta é uma infinita canção de amor
Que me leva até ao fim de todos os caminhos
Ao princípio de todos os mares
Num momento de amor que imagino partilhando contigo

Porque insisto em negar
Que te amo
Se tudo em meu redor
Já o descobriu...

16/Setembro/2004

Procuro sem cessar

Procuro sem cessar
Em todos os livros
Aquilo que muito te quero dizer
Como te vejo e sinto
Dizer-te como te espero

Sinto-me impotente
Receoso por qualquer palavra banal
Como se as letras inventadas
Não conjugassem tudo o que cresce em mim

Procuro sem cessar
Dizer-te do lugar que ocupas
Do lugar que te reservo
Do lugar onde te amo

20/Outubro/2004

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tempo...

Tempo

Falta-me o tempo
Que gastei com os dias inúteis
Faltam-me as lágrimas
Que chorei sem precisar
Falta-me a vida
Que finjo já vivida

22/Abril/2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Banalizei a dor

Banalizei as palavras
De tanto as querer minhas
Virei-as do avesso
Para vestirem o caminho ideal
Para o mais alto dos temores

Banalizei as palavras
De tanto as querer sentir
Fingi sofrimentos e amores
Para lhes dar vida
Para lhes dar corpo e alma

Banalizei a dor
De tanto que me doeu
Banalizei o sonho
De tanto o perseguir
Sem o entender... sem o rejeitar
Sem lhe reconhecer o pesadelo
Que seus braços me segredavam

6/Abril/2009

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Tudo de uma vez

Rebento com esta vontade
De escrever tudo de uma vez
Persigo as palavras que se escondem nas sombras
Procuro-as sem dó, sem piedade
Porque tenho peito profundo de sons
Ansiando por transcrições inéditas
De sentimentos gastos e ferrugentos

Desejo de liberdade que não quer ser livre
Medo de sorrir pelo medo de não saber chorar
Ai esta vontade de rebentar
De morrer pelas palavras que me fogem
E torná-las imortais


1/Abril/2009

Temo-nos

Tenho-te
Tens-me
Temo-nos
O caminho
Desenhos na Lua
Palavras doentes de silêncio
Gritos libertos em pó

Tenho-te
Tens-me
Presente meu e teu
Amarrando o futuro

Temo-nos
Irremediavelmente

1/Abril/2009

Um beijo...

Um beijo

Tentei um dia compôr-te um beijo
Lembras-te?
Tentei desenhá-lo com as cores do teu rosto
Para que o sentisses só teu
Faltou-me a voz dos poetas
Para o cantar no teu sono

Tantos dias depois
Tantas palavras depois
E ainda esse beijo navega em meus lábios
Ainda treme em minhas mãos
Esse beijo que nunca te dei
Foi amanhecer
Foi adubo na terra
Mão que na mão se entranha
E torna inseparáveis dois olhares

Tentei um dia compôr-te um beijo
Em forma de poema
Desenhado numa folha de papel
Mas o vento guardou-o para si
Arrancou-o aos meus braços

Relembrando com tristeza
O que o acaso levou consigo
Toma este beijo
Acho que está bonito
Enfeitado com a luz do teu olhar

1/Abril/2004

terça-feira, 31 de março de 2009

Respirar

Tenho dificuldade em respirar
Como se o que tenho dentro de mim
Fosse maior do que a vida
Como se o que tenho para falar
Viesse e me deixasse assim
Curando a minha alma ferida.

O que sinto no coração
É uma história de amor
É um pedaço de paixão
Escrito sobre uma antiga dor
É um olhar que me enternece
Ausência que me entristece

O que tenho em mim e já não seguro
É a vontade de te mostrar
A vida que ainda muito procuro
Todos os momentos e anseios
Que alguém me quis roubar
Enchendo meu sono de receios.

Quero muito conseguir dizer
O que tanto me sufoca o dia
E sem nada mais a fazer
Corro como se fosse louco
Suplicando a tua companhia
Quando tudo o que tenho é tão pouco.

Quero dizer que te amo
Porque a voz que sinto presente
É a voz com que te chamo
Voz triste, trémula, carente
Quero dizer-te a minha emoção
Quero dizer-te o meu coração

23/Setembro/2004

Rio

Rio gigante
Rio vivo
Nele me vejo antagónico
Rio seguro do destino
Inabalável no sentir
Contrário de mim

31/Março/2009

Reflexos

Lembro as palavras que nunca disseste
Cursos de água que não existem
Reflexos de futuros por viver

31/Março/2009

sexta-feira, 20 de março de 2009

Ainda...

Ainda me resta tanta ilusão
Ainda me atormenta tanto querer
Ainda...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Inquietação

Quantas portas tem a saída?
Quantos rumos tem o futuro?
De quantos avanços e recuos
Se faz uma inquietação perfeita?
Insana é a tentativa de caminhar direito
Louca a vontade de procurar uma vontade

Reclamo hoje o espólio abandonado
Em todos os pedaços dos meus nãos

Junto-me para não me perder
Sereno nesta doentia inquietação
Que me deixa sedento de ar puro


5/Março/2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009

Quantas palavras

Amedrontei-me com as palavras
Juntei-as uma a uma
Procurando uma frase onde me abrigar
Um som onde reconhecer o Sol

Breves sorrisos entre breves lágrimas
E um mar imenso que abracei na minha voz

Quis contar-te
Mas não te encontrei
Não me encontrei


1/Março/2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Poema com pressa

Estas linhas escrevo-as com pressa
Pressa não sei de quê
Mas com vontade de ir não sei onde

Sim, com pressa porque tenho pressa
De partir para todos os lugares onde já morri
Pressa de viver com todas as ansiedades

Linhas escritas com pressa de chegar ao fim
Sem que nada diga ou queira dizer
Mas querendo dizer o tudo que ainda não sei

Guardei no mais profundo das mãos
Todos os espinhos com que me feri
Mas nesta pressa em que estou
Sinto-os... leve, dormente, indolor

18/Fevereiro/2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Passado

E as palavras que não as vivo?
E a loucura imensa de as sublimar?
E a mordaça que me sufoca a alma?

Onde estão as masmorras?
Onde está o nadar sem pé?
Carro desvairado resvalando no abismo

Onde está o doce do amargo?
E a dor de sorrir mais alto?

A inércia deste sentir o não sentimento
Falta-me a guerra pelo amanhã inexistente
Perseguição incessante do nada a troco de nada.

Já não tenho imagens de castelos nos bolsos
E perdi todos os rascunhos da alma

12/Fevereiro/2009

Tu e a Lua

A Lua tinha um brilho diferente
Tinha um brilho que todas as noites ilumina o meu quarto
Quando ouço a tua voz nos meus pensamentos

A Lua tinha um brilho diferente
Tinha o brilho dos teus olhos
Por isso digo que te vi na Lua

Também as estrelas cintilavam com maior intensidade
E vi nelas... as tuas mãos... os teus gestos

E senti-me aconchegado na noite fria
Senti um lábio teu na minha face
E adormeci

27/Dezembro/2004

Não existes

Tu não existes
Porque em nenhuma canção de amor
Ouvi versos que te cantassem

Tu não existes
Porque te olho e te vejo única
Atrás desse brilho cuja dimensão ignoras

Tu não existes
Mas, no entanto, és real
És real
Mas meus dedos não te alcançam
Pareces inatingível

Como se fosses rainha
E eu povo
Tu existes
Mas não existes
Para mim...

27/Novembro/2004